Padaria


Ela tinha um modo muito elegante de trabalhar. Era cortês, educada e muito carinhosa com seus clientes. Cativava. Os clientes diziam todos que os quitutes dela tinham um sabor incomparável: jamais se achava igual. Ninguém sabia dizer, no fundo, que fórmula ou tempero deixava tudo tão gostoso. Ela só fazia sorrir, dizia ser segredo de família. Mas no fundo, ela sabia, o segredo era outro. Parecia bem ridículo, aquelas histórias bobas: era um tico de sentimento em tudo que fazia. E ela ousava esbanjar do que quer que seja que a ocupasse a cabeça no momento, desde que fosse positivo: liberdade, felicidade, amor, carinho, compaixão... Ela inclusive apelidou alguns de seus quitutes com sentimentos: bolo de chocolate era amor, rosquinhas eram a liberdade. E aí? E aí que o efeito placebo era lindo de se ver. Tinha gente que costumava dizer que as rosquinhas, por exemplo, tinham mesmo gosto de liberdade. Que dava até vontade de ousar e fazer coisas diferentes depois de comê-la. Ela e todos eles sabiam que isso não vinha, na realidade, dos doces. Mas quem não precisa de um empurrãozinho vez ou outra? É bom ter algo em que acreditar. E a galera gostava de acreditar nos doces dela! Eram um pequeno deleite para a alma de cada um deles sentir aquela sensaçãozinha boa, o formigamento no peito: sentir, finalmente, algo de bom percorrendo as veias. Sentir.

N.M.,"Placebo é uma invenção do corpo humano criada para que o próprio humano perceba que ele é incrível e capaz de muitas coisas. Que ele é especial em sua singularidade e tem todo o potencial que ele se permitir ter. Que ele existe e está vivo, e, por isso, é capaz de tudo."
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